sexta-feira, 8 de abril de 2011

Conto de Fadas

Era uma vez uma mulher que deu à luz uma linda menina. Já no quarto, ao recebê-la nos braços, chorou sem conseguir conter-se. As roupas dela e da menina ficaram ensopadas, como também a fronha, os lençóis e as toalhas. As enfermeiras esgotaram seus cuidados inúteis. Chamaram a médica que havia feito o parto. A médica atestou que a razão do choro não era tristeza. Era amor. A mulher sentia-se um ser imperfeito. Questionava-se. Como pudera receber tão divina graça? Como mostrar à menina a civilização tal como era? Como, aos olhos da menina, o mundo seria justo e bom? Como faria para a menina ver um mundo diferente do mundo que a civilização inventara? Depois de parar de chorar e de muito pensar, decidiu. Ensinaria à menina tudo que de mais importante havia aprendido. A existência de outra natureza. Não palpável, não apreensível, nem densa. Foi assim que a menina, desde os primeiros dias de vida, ouvia a mãe contar histórias de outros mundos... 
[...]
A rainha estremeceu e ficou verde de ciúmes. E daí, cada vez que via Branca de Neve seu coração tinha verdadeiros sobressaltos de raiva. Sua inveja e seus ciúmes desenvolviam-se qual erva daninha, não lhe dando mais sossego, nem de dia, nem de noite. Enfim, já não podendo mais, mandou chamar um caçador e disse-lhe:
Branca de Neve no esquife de cristal
 – Leva essa menina para a floresta, não quero mais tornar a vê-la; leva-a como puderes para a floresta, onde tens de matá-la; traze-me, porém, o coração e o fígado como prova de sua morte.
O caçador obedeceu. Levou a menina para a floresta, sob pretexto de lhe mostrar os veados e corças que lá havia. Mas, quando desembainhou o facão para enterrá-lo no coraçãozinho puro e inocente, ela desatou a chorar, implorando.
– Ah, querido caçador, deixe-me viver! Prometo ficar na floresta e nunca mais voltar ao castelo; assim, quem te mandou matar-me, nunca saberá que me poupaste a vida.
Era tão linda e meiga que o caçador, que não era homem mau, apiedou-se dela e disse:
– Pois bem, fica na floresta, mas livra-te de sair dela, porque a morte seria certa. E, em seu íntimo, ia pensando: “Nada arrisco, pois os animais ferozes vão devorá-la em breve e a vontade da rainha será satisfeita, sem que eu seja obrigado a suportar o peso de um feio crime”.
Justamente nesse momento passou correndo um veadinho; o caçador matou-o, tirou-lhe o coração e o fígado e levou-os à rainha como se fossem da Branca de Neve. O cozinheiro foi incumbido de prepará-los e cozinhá-los; e, no seu rancor feroz, a rainha comeu-os com alegria, certa de estar comendo o que pertencera a Branca de Neve.
[...]

E a menina sonhava com outro mundo, onde meninas, como a Branca de Neve, estariam a salvo de rainhas más... E sonhava.

Fim

Imagem e fragmento de texto extraídos de Contos e Lendas dos Irmãos Grimm. Trad. Íside Bonini. Ilustrações de Ramirez. São Paulo: Editora Edigraf, vol. 1, s.d.

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